quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Personalidade, stress e Cancro




Personalidade, stress e cancro – o processo psicológico da doença.
Porque é que alguns doentes recuperam e outros morrem, quando o prognóstico é exactamente igual?
A comunidade médica foi lenta em reconhecer o papel do stress na maior parte das doenças. Em grande parte pela orientação meramente física da medicina, ou seja, doenças, têm causas físicas e devem ser tratadas ou curadas através de uma intervenção física.
Pesquisas demonstraram ao longo dos anos que as substâncias carcinogéneas, a predisposição genética, a radiação e a dieta embora possam constituir factores que levam ao desenvolvimento de uma doença oncológica, por si só não são a raiz do problema. Todos nós de uma forma ou outra estamos sujeitos a estes factores, e nem todos adoecemos com cancro.
A identificação de um mecanismo psicológico em que determinados estados emocionais contribuem para a doença, tem sido cada vez mais aceite em virtude das pesquisas sobre o stress crónico.
O instinto de sobrevivência ativa em nós um mecanismo para reconhecer instantaneamente uma ameaça e reagir automaticamente para lutar ou fugir. Contudo, a vida nas sociedades ditas civilizadas requer que inibamos constantemente esta resposta primária.
 Quando um polícia lhe passa uma multa por excesso de velocidade quando já está atrasado para o trabalho, quando o seu chefe o repreende de uma forma agressiva e humilhante, quando a sua mulher ou marido lhe faz uma cena quando chega a casa, o seu corpo é instantaneamente mobilizado para uma reacção. Como você aprende a anular esta reação pelas consequências pessoais ou sociais que pode aportar, a reação natural ao stress não é descarregada gerando um efeito negativo e cumulativo no corpo físico.
Reconhece-se então que um nível elevado de stress emocional aumenta a suscetibilidade para a doença, uma vez que este resulta numa supressão do sistema imunitário, e produz uma série de desequilíbrios hormonais (nomeadamente a adrenalina e o cortisol) que aumentam significativamente a propensão para a produção de células anómalas, precisamente quando o corpo físico tem menos capacidade para as reconhecer e destruir.
Da mesma forma que os outros factores referidos anteriormente, embora sujeitos ao mesmo nível de stress emocional, nem todos desenvolvemos uma doença oncológica. Qual então o factor que nos distingue na reação e gestão de situações de stress? A nossa personalidade.
A forma como reagimos ao stress é um hábito e um comportamento ditado pelas nossas crenças e valores inconscientes acerca de quem somos, quem deveríamos ser, e a forma como o mundo e os outros devem ser. Estes padrões de comportamento orientam-nos e colocam-nos numa posição relativamente à vida.
Muitas das pesquisas sobre personalidade e doença é centrada em determinar algumas características entre pessoas que contraíram uma doença em particular, contudo não deve ficar alarmado caso se associe a algumas destas características. Estes estudos são meramente úteis para que possamos tomar consciência de alguns dos nossos padrões de comportamento. Não o torna definitivo.
Sugerimos então que se você é um doente oncológico ou alguém com medo de contrair cancro, que simplesmente use a pesquisa como um ponto de partida para uma tomada de consciência e lembre-se que todos nos temos tendência para ver aspectos de nos próprios neste tipo de descrições, contudo, a área da psicoterapia e psicologia é tremendamente subjectiva, daí que pessoas com uma personalidade similar, não desenvolvem a mesma doença, da mesma forma que as pessoas sujeitas aos mesmos agentes carcinogéneos, não adoecem com cancro. Existem muitos outros factores que têm um papel preponderante no desenvolvimento de qualquer doença.
Numa pesquisa feita a mais de 500 pessoas com cancro foram encontrados quatro elementos no processo psicológico levantado nas suas histórias de vida e conflitos que experimentaram nos anos imediatamente anteriores à descoberta da doença.
1.       Experiências na infância que resultaram em decisões de se tornarem um determinado tipo de pessoa. Muitos de nós consegue lembrar-se de algo que os nossos pais fizeram ou qualquer figura de autoridade que nos desagradou e nos levou a concluir, “Quando crescer nunca serei como ele/ela”. Ou um tempo em que alguém fez algo que nos marcou positivamente de tal forma que nos levou a copiar, sempre que possível esse comportamento.
Muitas destas decisões efectuadas durante a infância são positivas e têm um efeito benéfico nas nossas vidas. Muitas outras nem tanto. Em alguns casos, estas decisões são tomadas como resultado de um evento traumático ou uma experiência dolorosa. Se as crianças vêem os pais em brigas terríveis, por exemplo, podem tomar a decisão de negar a expressão de qualquer tipo de hostilidade, como raiva ou simplesmente irritação. Consequentemente, estabelecem regras para eles próprios, de que devem ter sempre um comportamento bondoso, agradável, animado, independentemente dos seus verdadeiros sentimentos e emoções. Inconscientemente desenvolvem a crença de que apenas sendo uma pessoa amorosa e delicada é possível obter o amor daqueles que são realmente importantes, mesmo que isso acarrete uma vida em esforço.
Ou algumas crianças começam a acreditar de que são responsáveis pelos sentimentos das outras pessoas, sempre que se apercebem que estas estão tristes, e tomam a decisão de que é a sua responsabilidade ajudá-las a sentirem-se melhores. Este tipo de decisões ou crenças incapacitam-nas na idade subsequente para resolver ou ultrapassar situações difíceis. Na vida adulta, este tipo de acomodação a estes padrões não é de todo apropriada, uma vez que as circunstâncias da vida são diametralmente opostas aquando da tomada da decisão.
Embora muitos de nós tendemos a ver-nos como “somos”, apenas porque “somos assim”, a menos que as nossas escolhas voltem a ser tomadas de uma forma consciente e não inconsciente, as nossas decisões tornam-se limitadas, ou sentir-nos-emos verdadeiramente desesperados e frustrados.
2.       A pessoa é abalada por uma série de eventos que ameaçam a sua identidade, são eles por exemplo, a morte do cônjuge, a reforma, a perda de um cargo ou função importante.
Estes stresses criam um problema com o qual a pessoa não sabe lidar. Não são apenas os eventos que criam o problema, mas também a incapacidade de reagir de acordo com os mesmos padrões de comportamento decididos na infância. É o caso por exemplo, quando uma pessoa centra toda a sua vida no trabalho porque não se permite relacionamentos próximos, e de repente é forçado a retirar-se por reforma ou despedimento. Ou o caso da mulher cujo principal sentido de identidade está ligado ao do marido, e descobre que ele está a ter um caso com outra pessoa.
3.       A pessoa não consegue ver uma forma de mudar as regras sobre como ele deve ou não deve reagir e sente-se encurralado, abandonado ou perdido na solução do problema e pode sentir que se essa mudança possa ter um impacto significativo na sua identidade, ou até mesmo perdê-la. Nesta incapacidade para resolver o problema, a pessoa desiste.
Começam a ver-se como vítimas, porque não se sentem capazes de alterar e a controlar as suas vidas, de forma a resolver os problemas ou a reduzirem o stress.
4.       A pessoa distancia-se do problema, tornando-se estático, inalterado e rígido. Uma vez que a esperança não existe, aparentemente pode mostrar que está a fazer a sua vida normalmente, contudo, nada do que faz tem qualquer significado, excepto manter as aparências. Uma doença séria ou até mesmo a morte, pode representar a solução ou o adiamento do problema.
Nesta pesquisa, a maior parte das pessoas reconheceu este tipo de sentimentos de desamparo e desespero alguns meses antes do aparecimento da doença. Este processo, contudo, não causa uma doença oncológica, antes permite que se desenvolva.
É este “desistir” da vida que pode interferir com o sistema imunitário, através da alteração no equilíbrio hormonal, que leva ao incremento da produção das células anómalas. Fisicamente, cria o clima apropriado para o desenvolvimento do cancro.
É crucial compreendermos que todos nós criamos o significado dos eventos que acontecem nas nossas vidas. O indivíduo que se assume como vítima, normalmente compreende estes acontecimentos como prova de que não existe qualquer esperança ou solução.
Cada um de nós escolhe – embora nem sempre a um nível consciente – como vai reagir. A intensidade do stress é determinado pelo significado que damos às coisas, com a nossa capacidade de movermos os recursos necessários para a solução dos nossos problemas, e com as regras que estabelecemos para lidarmos com o que nos acontece.
Este processo psicológico tem apenas a intenção de o despertar para a acção, e para fazer mudanças na sua vida, não de o assustar ou de o fazer sentir culpado. Uma vez que os estados emocionais contribuem para a doença, da mesma forma podem contribuir para a saúde. Reconhecendo o seu poder na participação da sua saúde, você estará a dar o primeiro passo para a recuperação.