Porque é que alguns doentes
recuperam e outros morrem, quando o prognóstico é exactamente igual?
A comunidade médica foi lenta em
reconhecer o papel do stress na maior parte das doenças. Em grande parte pela
orientação meramente física da medicina, ou seja, doenças, têm causas físicas e
devem ser tratadas ou curadas através de uma intervenção física.
Pesquisas demonstraram ao longo
dos anos que as substâncias carcinogéneas, a predisposição genética, a radiação
e a dieta embora possam constituir factores que levam ao desenvolvimento de uma
doença oncológica, por si só não são a raiz do problema. Todos nós de uma forma
ou outra estamos sujeitos a estes factores, e nem todos adoecemos com cancro.
A identificação de um mecanismo
psicológico em que determinados estados emocionais contribuem para a doença,
tem sido cada vez mais aceite em virtude das pesquisas sobre o stress crónico.
O instinto de sobrevivência ativa
em nós um mecanismo para reconhecer instantaneamente uma ameaça e reagir
automaticamente para lutar ou fugir. Contudo, a vida nas sociedades ditas
civilizadas requer que inibamos constantemente esta resposta primária.
Quando um polícia lhe passa uma multa por
excesso de velocidade quando já está atrasado para o trabalho, quando o seu
chefe o repreende de uma forma agressiva e humilhante, quando a sua mulher ou
marido lhe faz uma cena quando chega a casa, o seu corpo é instantaneamente
mobilizado para uma reacção. Como você aprende a anular esta reação pelas
consequências pessoais ou sociais que pode aportar, a reação natural ao stress
não é descarregada gerando um efeito negativo e cumulativo no corpo físico.
Reconhece-se então que um nível
elevado de stress emocional aumenta a suscetibilidade para a doença, uma vez
que este resulta numa supressão do sistema imunitário, e produz uma série de
desequilíbrios hormonais (nomeadamente a adrenalina e o cortisol) que aumentam
significativamente a propensão para a produção de células anómalas,
precisamente quando o corpo físico tem menos capacidade para as reconhecer e
destruir.
Da mesma forma que os outros
factores referidos anteriormente, embora sujeitos ao mesmo nível de stress
emocional, nem todos desenvolvemos uma doença oncológica. Qual então o factor
que nos distingue na reação e gestão de situações de stress? A nossa
personalidade.
A forma como reagimos ao stress é
um hábito e um comportamento ditado pelas nossas crenças e valores
inconscientes acerca de quem somos, quem deveríamos ser, e a forma como o mundo
e os outros devem ser. Estes padrões de comportamento orientam-nos e
colocam-nos numa posição relativamente à vida.
Muitas das pesquisas sobre
personalidade e doença é centrada em determinar algumas características entre
pessoas que contraíram uma doença em particular, contudo não deve ficar
alarmado caso se associe a algumas destas características. Estes estudos são
meramente úteis para que possamos tomar consciência de alguns dos nossos padrões
de comportamento. Não o torna definitivo.
Sugerimos então que se você é um
doente oncológico ou alguém com medo de contrair cancro, que simplesmente use a
pesquisa como um ponto de partida para uma tomada de consciência e lembre-se
que todos nos temos tendência para ver aspectos de nos próprios neste tipo de
descrições, contudo, a área da psicoterapia e psicologia é tremendamente
subjectiva, daí que pessoas com uma personalidade similar, não desenvolvem a
mesma doença, da mesma forma que as pessoas sujeitas aos mesmos agentes carcinogéneos,
não adoecem com cancro. Existem muitos outros factores que têm um papel
preponderante no desenvolvimento de qualquer doença.
Numa pesquisa feita a mais de 500
pessoas com cancro foram encontrados quatro elementos no processo psicológico
levantado nas suas histórias de vida e conflitos que experimentaram nos anos
imediatamente anteriores à descoberta da doença.
1. Experiências na infância que resultaram em
decisões de se tornarem um determinado tipo de pessoa. Muitos de nós
consegue lembrar-se de algo que os nossos pais fizeram ou qualquer figura de
autoridade que nos desagradou e nos levou a concluir, “Quando crescer nunca
serei como ele/ela”. Ou um tempo em que alguém fez algo que nos marcou
positivamente de tal forma que nos levou a copiar, sempre que possível esse
comportamento.
Muitas destas
decisões efectuadas durante a infância são positivas e têm um efeito benéfico
nas nossas vidas. Muitas outras nem tanto. Em alguns casos, estas decisões são
tomadas como resultado de um evento traumático ou uma experiência dolorosa. Se as
crianças vêem os pais em brigas terríveis, por exemplo, podem tomar a decisão
de negar a expressão de qualquer tipo de hostilidade, como raiva ou
simplesmente irritação. Consequentemente, estabelecem regras para eles
próprios, de que devem ter sempre um comportamento bondoso, agradável, animado,
independentemente dos seus verdadeiros sentimentos e emoções. Inconscientemente
desenvolvem a crença de que apenas sendo uma pessoa amorosa e delicada é
possível obter o amor daqueles que são realmente importantes, mesmo que isso
acarrete uma vida em esforço.
Ou algumas
crianças começam a acreditar de que são responsáveis pelos sentimentos das
outras pessoas, sempre que se apercebem que estas estão tristes, e tomam a decisão
de que é a sua responsabilidade ajudá-las a sentirem-se melhores. Este tipo de
decisões ou crenças incapacitam-nas na idade subsequente para resolver ou
ultrapassar situações difíceis. Na vida adulta, este tipo de acomodação a estes
padrões não é de todo apropriada, uma vez que as circunstâncias da vida são
diametralmente opostas aquando da tomada da decisão.
Embora muitos de
nós tendemos a ver-nos como “somos”, apenas porque “somos assim”, a menos que
as nossas escolhas voltem a ser tomadas de uma forma consciente e não
inconsciente, as nossas decisões tornam-se limitadas, ou sentir-nos-emos
verdadeiramente desesperados e frustrados.
2. A pessoa é abalada por uma série de eventos
que ameaçam a sua identidade, são eles por exemplo, a morte do cônjuge, a reforma,
a perda de um cargo ou função importante.
Estes stresses
criam um problema com o qual a pessoa não sabe lidar. Não são apenas os eventos
que criam o problema, mas também a incapacidade de reagir de acordo com os
mesmos padrões de comportamento decididos na infância. É o caso por exemplo,
quando uma pessoa centra toda a sua vida no trabalho porque não se permite
relacionamentos próximos, e de repente é forçado a retirar-se por reforma ou
despedimento. Ou o caso da mulher cujo principal sentido de identidade está
ligado ao do marido, e descobre que ele está a ter um caso com outra pessoa.
3. A pessoa não consegue ver uma forma de mudar
as regras sobre como ele deve ou não deve reagir e sente-se encurralado,
abandonado ou perdido na solução do problema e pode sentir que se essa mudança possa
ter um impacto significativo na sua identidade, ou até mesmo perdê-la. Nesta
incapacidade para resolver o problema, a pessoa desiste.
Começam a ver-se
como vítimas, porque não se sentem capazes de alterar e a controlar as suas vidas,
de forma a resolver os problemas ou a reduzirem o stress.
4. A pessoa distancia-se do problema,
tornando-se estático, inalterado e rígido. Uma vez que a esperança não existe,
aparentemente pode mostrar que está a fazer a sua vida normalmente, contudo,
nada do que faz tem qualquer significado, excepto manter as aparências. Uma doença
séria ou até mesmo a morte, pode representar a solução ou o adiamento do
problema.
Nesta pesquisa,
a maior parte das pessoas reconheceu este tipo de sentimentos de desamparo e
desespero alguns meses antes do aparecimento da doença. Este processo, contudo,
não causa uma doença oncológica, antes permite que se desenvolva.
É este
“desistir” da vida que pode interferir com o sistema imunitário, através da
alteração no equilíbrio hormonal, que leva ao incremento da produção das
células anómalas. Fisicamente, cria o clima apropriado para o desenvolvimento
do cancro.
É crucial
compreendermos que todos nós criamos o significado dos eventos que acontecem
nas nossas vidas. O indivíduo que se assume como vítima, normalmente compreende
estes acontecimentos como prova de que não existe qualquer esperança ou
solução.
Cada um de nós
escolhe – embora nem sempre a um nível consciente – como vai reagir. A
intensidade do stress é determinado pelo significado que damos às coisas, com a
nossa capacidade de movermos os recursos necessários para a solução dos nossos
problemas, e com as regras que estabelecemos para lidarmos com o que nos
acontece.
Este processo
psicológico tem apenas a intenção de o despertar para a acção, e para fazer
mudanças na sua vida, não de o assustar ou de o fazer sentir culpado. Uma vez
que os estados emocionais contribuem para a doença, da mesma forma podem
contribuir para a saúde. Reconhecendo o seu poder na participação da sua saúde,
você estará a dar o primeiro passo para a recuperação.